terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Melhor Morrer por Ela

Mesmo sangrando feito um porco degolado, o sujeito demonstrava alguma força de espírito, e insistia em permanecer com o olhar fixo no meu rosto. Eu continuava socando o miserável. Não tinha o menor respeito por quem abusava de crianças, e fazia questão de deixar isso bem claro, fosse aos olhos da justiça, fosse de modo mais privado. Tanto fazia se era um filho-da-mãe de quase dois metros como aquele. Tanto fazia se era no saguão da delegacia ou num fétido beco como aquele. Peguei o cara de surpresa, quando ele saía pelos fundos do restaurante chinês da rua Tavernier, no Nível R. Acertei a nuca do imbecil com uma das latas de lixo que esvaziara para melhor manuseá-la. O cara tombou feito um daqueles personagens de desenho animado. De cara no chão. Um belo estouro. Nem parecia o mesmo valentão que freqüentava o Bar Borghese e contava, já embriagado, as vantagens de seus “feitos” a quem quisesse escutar. Um valentão vencido por uma lata de lixo. Definitivamente, não tinha lógica alguma mandá-lo para uma cadeia. Foi quando ele abriu a boca e despejou, além de baba ensangüentada, suas últimas palavras:
“Ei, cara, por que tá fazendo isso? Não me conhece, não?”
“Dolores manda lembranças...”, respondi.
Me livrei da lata de lixo e saquei a Webley. Mais um tiro entre tantos outros barulhos na noite do Nível R. O resto era com os novatos da delegacia.