terça-feira, 16 de junho de 2009

Reflexo Covarde

Dois maços de Tiparillos, alguns doces e a revista de mulher pelada. Total de 65 mangos.
“Mais alguma coisa, chefe Marcuse?”
Martin “Touro” Callaham era um daqueles donos de banca de jornais que nunca sorriam. Passava o dia recebendo produtos, arrumando o mostruário, tratando com clientes e dando trocos em moedinhas ou balas. Nunca sorria, mesmo se o cliente lhe desejava um bom dia. Nunca sorria, mesmo se uma bela morena tascava um daqueles sorrisos fatais de agradecimento e algo mais.
Callaham não tinha aquele apelido por acaso: fora campeão amador dos pesos-médios. Derrotara o famoso Dragão Sagitariano em uma luta de oito rounds lendários. Mandara o Martelo Irlandês pra lona em menos de cinco segundos. Callaham era rápido, não era chegado em espetáculos: apenas subia no ringue e fazia o que sabia fazer melhor. Depois recolhia sua parte, e ia pra casa, sozinho, pensar na vida e nas lutas do dia seguinte. Um solitário que não caía.
Eu só vi o carro quando o som de seus flutuadores termodinâmicos mudou para um aguda característico na curva. Meus reflexos ainda funcionavam. O mesmo não pude dizer dos reflexos de Callaham. Acho que ele estava prestando mais atenção no número de jornais recebidos. Eu me abaixei ao mesmo tempo em que saquei o trabuco. Callaham apenas olhou para baixo. Uma única rajada de Thompson-X4 com silenciador. Eu ainda disparei cinco tiros. Foi então que Callaham tombou, com os olhos esbugalhados. Incrédulo, como se aquele não fosse um fim digno de um ex-campeão.
Sim. Eu era o alvo. Não Callaham. Não o Touro.
Sequer teve tempo de dizer algo. Os covardes. Na certa era a gangue espanhola que visitei horas antes.
Liguei para a delegacia e pedi uma viatura.
“E mande logo o rabecão. Temos uma vítima fatal...”
Peguei a carteira. Tirei uma nota de 100. Em seguida, rasguei o lacre do Tiparillo e acendi o bicho.
“Fique com o troco, Touro...”

Últimas Frases ao Celular (Parte04)

“...Esquece. O sujeito é marciano. Na certa já sabe dos teus planos...”