segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Ombro Tatuado

“Tubarão!”, gritei. Um dos novatos levou um susto e chegou a derramar um pouco do café do copo plástico. O presunto era um estivador do Zona BC-15. Cargueiros interplanetários. Tinha várias tatuagens pelo corpo. Os desenhos eram bonitos, e a coisa toda apenas realçava o fato de um de seus braços ter sido violentamente arrancado em algum espetáculo de sangue, dor e desesperança.
“Vai ver foi comido por algum tubarão de dieta...”, continuei.
“Pensamos nisso, senhor. Mas o legista disse que o braço foi arrancado antes de o corpo ser jogado no mar”, respondeu o novato à medida que tentava se limpar.
“Alguém não se importou em fazer uma bela lambança, hein?”, notei.
“Não, senhor. Baixamos a ficha da vítima. Timothy Galadred. Sem família. Pequenos furtos e confusões por bebedeira, nada de muito grave. O último contratante foi um tal de Xiao Ming...”
O Tiparillo ficou imóvel entre meus lábios assim que o nome cortou o ar da noite tal qual faca kukuri.
“Xiao Ming? Dos Mings da Zona Vermelha?”
“Acho que sim, senhor. Ainda estamos sem dados suficientes sobre esse Ming. O computador central não acusa nenhuma irregularidade muito grave.”
Nem acusaria, pensei. Ming era como uma sombra em tempo nublado. Um ponto de interrogação entre as estrelas deste quadrante. Um mosquito transmissor de malária em algum saguão de um aeroporto dos Trópicos. Era o chefão mas nunca fazia o trabalho sujo. Era o imperador, e nunca se metia com a gentalha.
“Alguma sugestão, senhor?”
“Apenas uma. Me traga outro café. Vai ser uma noite daquelas...”

Últimas Frases ao Celular (parte 03)

“...Vou tentar detonar daqui mesmo. O número de vítimas será maior...”