quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Relatório de Kordini-6

Fui acordado pela aeromoça por volta das sete da manhã. Tomei café e comi croissants com manteiga e ovos mexidos. Não tive problemas na alfândega de Kordini-6. Os dois pesados baús passaram pelo raio-X sob o olhar despreocupado e monótono da policial de olhos verdes e pele bronzeada. Suei frio, mas não dei mole. Peguei um daqueles táxis de bagageiro gigante e mandei tocar pra Avenida Hümensrad, número 42. Lá chegando, descarreguei os baús com a ajuda do motorista obeso, paguei os 2000 Krods da corrida e toquei a campainha do portão principal. Ainda suava, mas não tanto quanto na alfândega. O mordomo de ar oriental atendeu a porta e me pediu para esperar no escritório. Era um lugar cheio de livros bem organizados e obras de arte bem conservadas. Coisa de gente bacana. Não demorou muito para que a misteriosa receptadora aparecesse. Usava um vestido longo, esverdeado e com um quê de transparente. Não disse seu nome, mas sorriu educadamente, sem exageros. Seus longos e perfumados cabelos ruivos não condiziam com o ar misterioso com o qual havia se revestido havia duas semanas, quando, por meio de mensagens eletrônicas, encomendara os dois exóticos itens. Nada fáceis de achar, estes itens. A última equipe que tentou teve sete de seus homens dilacerados. Nossa equipe, contudo, utilizou um método diferente, que não fazia uso de processadores de plasma radioativo ou aqueles ultrapassados intensificadores de moléculas Hopkins. Não que as condições de trabalho fossem melhores: cinco dias nas selvas de Kiedis-Falom são suficientes para deixar qualquer caçador experiente com algum princípio de loucura. A garantia de uma boa recompensa, entretanto, afastava – por algum tempo – os fantasmas da solidão, do medo e de uma morte violenta. A receptadora pediu sigilo absoluto. Eu disse que, pela grana que recebi, levaria aquela conversa para o túmulo. Ela sorriu novamente. O montante da recompensa fora devidamente transferido para a minha conta. Eu agradeci e lhe desejei boa sorte. Quem diabos sabia o que ela faria com aquelas criaturas? Não era mais problema meu. Eu já tinha lugar marcado na Primeira Classe do vôo noturno para o balneário de Ibiscus Zät. Kordini-6 que fosse para o Inferno.