terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Inspiração Emergente

Tudo que restava para Chris Esperanza era uma espiral de vícios, arrependimentos e medos. A voz de Doris Day na estação de rádio ajudava um pouco, mas Chris sabia que, cedo ou tarde, o frio da madrugada candanga o abraçaria forte e o levaria para alguma prisão em sua própria mente. Ele não estava mesmo inspirado, e isso já havia algumas semanas. A musa – uma delas pelo menos – o havia abandonado: fizera suas mala, não deixara bilhete de despedida e tomara o primeiro táxi fedorento em direção a algum pobre diabo recém-saído de um desses cursos motivacionais. Piranha desgraçada. Esperanza tinha certeza de que não precisava dela, de que conseguiria escrever alguma coisa que prestasse até o final de semana. Ele acendeu um Tiparillo e se serviu de outra dose de Famous Grouse com bastante gelo em um copo baixo.
“Todos passam por uma fase difícil”, balbuciou.
Oito meses depois, o mesmo Chris Esperanza estava no topo do mundo. Era um verdadeiro herói. Seu livro era um sucesso e ele emitia sonoras gargalhadas toda vez que alguém mencionava a tal musa – uma delas pelo menos. Vestido com o melhor que o dinheiro podia comprar, Esperanza freqüentava o jet-set das mais prestigiadas capitais do mundo. Já não pensava muito em seus anos de ferro e de fogo. Apenas curtia o presente e aproveitava o que uma vida pudesse lhe oferecer de melhor: mulheres, excessos, viagens exóticas e algum animal de estimação fora do comum. E toda vez que um fotógrafo disparava seu flash, Chris Esperanza exclamava o óbvio:
“Uau.”

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