segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O Capitão Ahab e os Gatos da Baleia Elétrica


Pobre homem era o Capitão Ahab. Triste, desconfiado e eternamente ranzinza. Singrando um mar de raiva à procura da besta-fera que devorara sua família e em seguida cometera a pachorra de palitar os gigantes dentes com uma de suas pernas. Com o rosto a expressar a ira de mil loucos demônios e os olhos esbugalhados de um fantasma sedento de vingança, Ahab permanecia no timão do Pequod, atento a qualquer movimento suspeito nas escuras águas do Pacífico. Um dia, uma semana, um ano. Quanto tempo até o encontro?
E eis que o bondoso Destino lhe presenteia. Um mamute dos oceanos infernais. Um Leviatã fosforescente e cravado de antenas. Um naco de carne dos deuses mais hediondos. A baleia elétrica.
“Desnaturada dos infernos. Ainda hoje hei de ter minha tão aguardada vingança”, bradou o lobo do mar. Entrou em um dos botes do Pequod, armado de três arpões fabricados por um armeiro chinês caolho, e remou sozinho na direção da bruta espécie. Ainda longe, já conseguia vislumbrar outros inúmeros arpões cravados no couro cetáceo, frutos de tentativas que invariavelmente acabavam em morte e lamuria. Tal qual marcos para cada homem morto. Então, encostou no gigante e alvo algoz, pulou em sua corcunda e cravou um dos arpões no grosso tecido. Não havia mais jeito de retornar ao bote. Agora era encarar o destino e partir daquela para melhor. Cravou o segundo arpão, depois o terceiro. Nada de o bicho reclamar. Apenas jorros de sangue e espuma em meio ao turbulento oceano. Ahab e seu inimigo eram um só. Para onde um fosse, o outro iria junto. Inferno? Céu? Limbo? Pouco importava.
Ahab e a baleia elétrica agora faziam parte do mar.

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