terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O encolhedor de cabeças alcóolatra


Quando a garçonete do boteco trouxe o enésimo rabo-de-galo, Bayoko Lovejoy vomitou aos pés da bela. A moça não teve maiores reações; até porque já estava acostumada com aquele tipo de cliente. Melhor não reclamar do que fazê-lo, espantar a clientela e receber um safanões do dono do moquifo. Com uma expressão de tristeza, ela colocou o copo sobre a mesa suja e desapareceu em meio à fumaça esverdeada e à clientela barulhenta.
Bayoko se refez do seu próprio jorro-surpresa, limpou a garganta e sorveu a dose com a rapidez de um raio. Era mesmo uma época decadente. Ele não era o mesmo. O mundo não acreditava mais nas mesmas coisas; fossem românticas, fossem fúteis. Bayoko era, aos olhos do populacho, um has-been, um dinossauro, carta fora do baralho, zero à esquerda. Enfim, um pobre e coitado encolhedor de cabeças do Estreito de Deltanite viciado em álcool.
Bons tempos aqueles em que Bayoko era o rei do pedaço, o imperador da cocada preta, a azeitona da empadinha, a última Coca-Cola do deserto. Contratado pelas melhores agências de Prima-Celerator, saía à procura de suas vítimas e voltava com suas cabeças devidamente encolhidas. Enfrentava matas fechadas, desertos abrasadores e povos hostis, mas voltava com a sacolinha recheada de diminutas cabeças.
Isso ficara no passado.
Bayoko parou de pensar naquilo tudo, engoliu o foguinho líquido e esfregou o rosto.
"Porcaria de vida", resmungou.

(continua...)

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