sábado, 13 de dezembro de 2008

Um caso para Padawan Marcuse, detetive particular do nível M de Beta-Siridó

Era noite de crime na megalópole de Beta-Siridó. Um figurão da Zona Leste metido com jogos de azar e contrabando de armas. Com um movimento que podia ser interpretado como puro ódio, Padawan Marcuse, projetou a guimba de seu Tiparillo de encontro ao hidrante e estudou a cena do crime. O corpo mutilado jazia em uma posição das mais bizarras, como se a vítima estivesse rezando uma última vez ajoelhada e cabisbaixa na calçada. A poça de sangue aos poucos se misturava com a água do esgoto e produzia um espetáculo de horror barato.
Marcuse acendeu outro Tiparillo, deus umas baforadas e caminhou na direção de um dos guardas que protegiam o local. Era um sujeito magro, de olhos esbugalhados e que cheirava a salaminho. Seu uniforme estava amassado e ele não parava de batucar o dedão de sua mão direita no distintivo cromado. Um novato. Com um ar de quem não quer nada, Marcuse mostrou suas credenciais. O guarda apenas fez um sinal de positivo com a cabeça.
“O que temos aqui, chefe?”, perguntou Marcuse.
“O de sempre. Empresário ligado à máfia dos jogos. Garganta cortada e alguns tiros nas costas só por diversão...”, respondeu o guarda.
“...ou garantia. O sujeito é bem grande. Não é daqueles que se renderiam tão facilmente.”
“Tanto faz. Bateu as botas. E agora há rumores de uma nova guerra pela sucessão...”
“Sei...Parece que vai ser uma semana daquelas no necrotério...”
O guarda riu, mas Padawan Marcuse permaneceu sério, fumando seu charutinho barato e tentando juntar as primeiras peças do quebra-cabeça macabro. Uma guerra de gangues significava mais personagens na história. E mais personagens na história significava mais dor de cabeça. Padawan Marcuse não era o tipo de detetive que gostava de pensar por muito tempo. Gostava das coisas simples, práticas e, se possível, com desconto. Coisas tais como pudim de leite, ou discos do Dean Martin. Mas isso já era uma outra história. O que Padawan Marcuse sentia naquele momento era um misto de cansaço e frustração. Cansaço por causa de sua rotina de detetive particular; frustração por estar falando com um projeto de ser humano que certamente não estaria vivo dali a dois anos.
“Vai esperar o comissário,” perguntou o guarda.
Padawan Marcuse deu duas longas baforadas no Tiparillo e cuspiu no asfalto.
“Não,” respondeu. “Vou embora. Muito trabalho pela frente...”
Um vento quente alisou o cadáver por alguns segundos. Depois parou.
Nem todos se davam bem em Beta-Siridó.

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